terça-feira, 16 de junho de 2009

Cal Ribeiro


Cal Ribeiro por Alberto Freire

O músico baiano Cal Ribeiro já está na estrada há muito tempo. No entanto, cada vez que ele resolve parar de compor suas canções e recompor o repertório de outros músicos da MPB para fazer um novo show, fica no ar uma sensação de novidade que não se esgota.

A sua forma de interpretar as canções, consegue revelar surpresas a cada apresentação que decide produzir. E produzir parece ser a forma que ele reinventa para dar conta de suas múltiplas terefas no cotidiano, no equilíbrio instável entre uma jornada de trabalho convencional, como funcionário de uma empresa de petróleo e outra, com o restante do tempo que lhe sobra, como um operário da música.

nesses dois mundos, Cal convive com um universo de poetas e letristas que lhe abastecem de matéria-prima para o seu trabalho. É visível a tentativa de sua obra cantar um mundo menos voltado para o tangível e reverenciar uma perspectiva metafísica do universo, sem fazer disso um chamamento. Cal Ribeiro prefere seguir seu rumo com um olhar atento e o ouvido hiper aberto, apontando para múltiplas direções, de onde vem sua formação intuitiva.

Seu lado intérprete não lhe permite cair no lugar-comum de quem faz releituras ou interpreta standards da MPB com uma "nova roupagem" ou "nova pegada", como estamos acostumados a ouvir nas entrevistas dos chamados "novos talentos", que entram e saem das ondas de rádio ou dos sinais de TV, sem deixar rastros.

Cal Ribeiro não tem pressa, e talvez não tenha nem mesmo desejo de estrelato. por isso pode brindar seu público fiel com músicas que vão desde a idade de ouro da canção popular radiofônica, nos anos 40 e 50, até a contemporaneidade. Tudo isso sem a ansiedade de inserir reformas nos arranjos ou mesmo na interpretação. Por que a reforma, como nos ensinam os filósofos, é a volta a forma original. E na canção isso é um objetivo de alcance improvável.

A opção de Cal Ribeiro é pelo arranjo que transforma, ou seja, insere algo de singular ao já visto e ouvido, mas sem perder a referência dos mestres, jamais. Ouvi-lo interpretar Caymmi, Gil, Caetano, Johnny Alf, Paulo Vanzolini, Adoniran Barbosa ou um jovem compositor, é sempre uma oportunidade de escutar algo que nos escapou por um discuido nosso, ao longo do tempo. E Cal, como se entrasse em êxtase por meio da música, nos faz parar para ouvir um verso retirado com maestria e faz da repetição desse verso um mântra que nos leva a rever o som e o sentido.

A banda que lhe acompanha é também um conjunto de boas surpresas, com músicos recém entrados nos vinte anos, mas com umtalento que nos faz duvidar de suas idades cronológicas. O som que sai dos instrumentos, em solo ou em grupo, tem tanta maturidade que nos leva a perguntar: onde esses meninos aprenderam a tocar isso, e dessa forma?

Ao escrever essas impressões sobre o trabalho de Cal Ribeiro, lembrei de uma passagem, quando Tom Jobim escreveu o texto de apresentação na contracapa do primeiro LP de João Gilberto, Chega de Saudade, gravado em 1959. Ao final do texto, para inserir credibilidade ao que dissera de João, o jovem Tom escreveu "Caymmi também acha". Não sei o que vão achar do trabalho de Cal as nossas referências e reverências musicais quando ouvi-lo. Mas sei que já existe um público, de pessoas comuns e outras nem tanto, que acha sua música a síntese da sua história e trajetória no citidiano, por que Cal vive entre dois mundos, com um pé na indústria e outro na arte.

Comentário de Cal Ribeiro: gosto da leitura desse cara porque aceito que "o perfil não um bom ponto de vista). Obrigado mano Beto.

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